Este post é especial... Pedi a um leitor amigo que anda nas lides de sair do armário e conhecer outros gays, o Alexandre, que me escrevesse sobre a sua experiência de travar conhecimento com outros gays. Pedi-lhe, porque eu, já não estou nessa fase e era interessante como se passam as coisas actualmente. Ao que parece não é muito diferente do meu tempo, mas a internet é sem dúvida um meio privilegiado de contacto. No entanto, e na minha opinião pessoal, as tentativas de procurar compatibilidades tanto em sites de encontros, ou de agências matrimoniais entre dois utilizadores registados baseados nos seus perfis, pode e o mais certo é que não resulte... O que atrai dois seres humanos é alguns dos seus interesses comuns, mas é principalmente as diferenças que nos atraem... Ou não será?
Obviamente que o contacto pessoal é essencial para conhecer o outro, e para isso há bares, há discotecas, saunas, e outros locais menos convencionais...
O Alexandre partilha então a sua experiência e fica desde já o meu sincero bem-haja a ele, pela dedicação e tempo dispensado!
Avesso a máquinas, fui uma das últimas pessoas a comprar PC, a aderir à internet e a descobrir sites de encontro para gays. Sempre fui muito céptico a encontros ou amizades feitas em plataformas virtuais, sobretudo em chats, que nunca vim a frequentar. Contudo, tive um professor de Informática que terá sido o 1º português a casar-se com alguém conhecido através de chat (uma brasileira do outro lado do oceano).
A primeira comunidade a que me juntei foi a “blogosfera”. Um rede de blogues e autores que, através de interesses ou amizades em comum, se conectam, comunicam e partilham. Também a comunidade gay usa essa rede para se expressar e dar a conhecer. Trata-se de um meio elaborado, com posts auto-narrativos, informativos ou ficcionados, offline, em que o conhecimento é feito de forma distante. Normalmente, o autor do blogue comunica com os seus leitores através de uma caixa pública, reservada ou semi-reservada de comentários, ou através de endereços electrónicos que autores-leitores disponibilizam nos seus perfis. Daqui podem surgir amizades ou, até mesmo, relacionamentos amorosos, visto que, muitas vezes, a empatia surge pelo conteúdo dos posts, ou pela personalidade de quem os publica e/ou lê. Eu próprio, comentador assíduo, e blogger activo, fiz algumas amizades, bem sucedidas, com troca e partilha de presentes, correspondência e muito mais. Ainda que menos frequente, a blogosfera pode também ser um veículo para encontros sexuais, seja por incitamento do blogger em seus posts, seja por abordagem colateral, através de endereço electrónico, por parte de leitores. Foi através da blogosfera que tomei o primeiro contacto com gays, como eu, e foi através de um blogue por mim elaborado que conheci, em msn, o primeiro rapaz por quem me “enamorei”. Foi através da blogosfera, também, que recebi informação e as primeiras partilhas de experiências homossexuais.
Uma alternativa virtual à blogosfera são os sites de encontro para gays. Dois exemplos díspares são o Gaydar e o Meetic. Apenas me inscrevi no primeiro, e após muita insistência por parte de um amigo gay (por sinal, autor deste blogue “Ser Gay”), que havia conhecido o seu companheiro através dele. Com muita resistência, e alguma curiosidade, elaborei um perfil honesto e comecei trocando mensagens com outros gays conectados à plataforma. Tomei, assim, contacto directo, e on-line, com centenas de gays de todo o país, de todas as áreas profissionais, de todos os estilos e intenções, com perfis verdadeiros e alguns menos verdadeiros. Tomei conhecimento, também, das diferentes realidades e da pluralidade de uma “comunidade” muito heterogénea, que desconhecia por completo. A primeira masturbação on-line, o aprofundamento de questões da (homo)sexualidade, e até mesmo algumas amizades surgiram daqui. Existem dois modus operandi possíveis para contacto, neste tipo de sites: um deles, que nunca usei, é o chat, onde as salas de conversação on-line públicas podem dar lugar, a qualquer momento e de acordo com as vontades, a salas de conversação mais privadas, à semelhança do que sucede com chats de uso geral; o outro método é o da mensagem, estilo sms de telemóvel, convidando quem nos interessa à conversa por msn pessoal. Neste último método, o único que usei, pode ser feita triagem de mensagens, bloqueio de remetentes, troca de endereços e outros contactos pessoais. Por norma, a plataforma serve apenas como “montra” de exposição e troca de endereços electrónicos, sendo o msn o veículo preferencial, por ser mais privado e livre de controlo, para conhecimento e encontro virtual entre gays.
Por serem gratuitos, sites como o Gaydar são amplamente usados por uma maioria de gays, entre os quais estudantes e jovens sem recursos financeiros para suportar a mensalidade de sites mais elaborados e formais, onde fraudes e armadilhas sexuais são alvo de maior controlo por parte dos responsáveis.
O Meetic é um destes exemplos de sites. Nele não encontramos fotos de nús ou semi-nús nos perfis, nem palavras ofensivas nas mensagens de apresentação. Aliás, ao contrário do que sucede no Gaydar, a equipa do Meetic analisa criteriosamente cada perfil e foto antes de ser publicitada. A faixa etária dos membros inscritos é mais elevada, sendo escassos os registos de primeira juventude. Também em intenções de procura, ainda que muitas vezes obscuras, existe uma maior tendência para a procura de relacionamento sólido, ao invés do que sucede no Gaydar, onde as intenções são muito heterogéneas, indo da procura de relacionamento, à procura de aventura sexual sem compromisso.
Meetic e sites idênticos são semelhantes a agências matrimoniais, de elaborada complexidade, onde cada usuário preenche um exaustivo formulário – que por si só dissuade os aventureiros sexuais –, e onde os diferentes formulários são cruzados pelo sistema para averiguar, de forma automática, ou pessoal, se o usuário pretender, as compatibilidades entre membros registados. Normalmente, este tipo de sites oferece gratuitamente um periódo ou um espaço limitado de experimentação, seguida da qual se deverá proceder à subscrição de uma taxa mensal, semestral ou anual para aceder ao serviço. Eu procedi a este periódo de experimentação, por curiosidade, e fiquei surpreendido com a eficiência do sistema. Contudo, os longos formulários, bem como as taxas de subscrição, afastam jovens como eu.
Apesar de ser um conhecido lugar virtual de engate, Gaydar proporcionou-me alguns amigos, algumas conversas em msn muito enriquecedoras, e o contacto com um rapaz que se foi tornando, para mim, especial.
Cada plataforma ou tipo de sites de encontro para gays tem as suas vantagens e desvantagens, dependendo do que se procura, de quem procura e de como se procura. Assertividade, e alguma cautela (sobretudo na revelação de informações pessoais) é a atitude recomendada em todos eles. Contudo, este método virtual de conhecimento entre gays pode ser, e é, uma ajuda fundamental para pessoas que se encontram isoladas pela geografia, pelo medo, ou pela timidez, como sucedeu no meu caso. E “porque nenhum homem é uma ilha”, vale a pena tentar lançar pontes…