Eu, o lindo e alguns amigos discutimos frequentemente a questão: "As mães sabem sempre que somos gays! São as primeiras a saber!". Eu, baseando-me na minha história pessoal, e acreditando que não me mentiram, tanto o meu pai, a minha mãe e o meu irmão me disseram que nunca desconfiaram...Ok, é certo que há muita coisa escancarada diante dos nossos olhos e nós, por acharmos que é algo que não queremos ver, o subconsciente trata de "não deixar ver"... Já me aconteceu isso, e só me apercebi disso muito tempo depois de ter acontecido! Eu continuo a acreditar que a minha mãe não sabia que tinha um filho homossexual até lhe ter contado. Acredito que ela me achasse especial, diferente, mas penso que não lhe passaria que essa diferença passasse por gostar de homens! Lá na aldeia, a homossexualidade é tabu, e fala-se disso em surdina ou então nem sequer se fala... E muita gente, principalmente mulheres, nem sabem que "isso" pode existir por ali...
Partilho, à semelhança do que tenho vindo a fazer, mais uma história do livro Partilha-te. Tem a ver com este assunto, e a jovem que a escreve fá-la de uma forma muito ternurenta...
Como não contei à minha mãe
Tudo tinha acabado, tanto tempo a partilhar a minha vida com
alguém para acabar assim, era difícil de acreditar.
Estava sentada no chão a chorar quando a minha mãe entrou no
meu quarto e sentou-se do meu lado sem nada dizer, esperava que eu
lhe dissesse o que se estaria a passar.
- Eu ainda não estou pronta, eu não consigo contar-te. -
Lamentava a minha falta de coragem, afinal ela era a única pessoa que
receava que me rejeitasse.
- Mas eu já sei, querida.
- Já sabes? Como assim?
- Tu e a tua namorada acabaram.
Não fui capaz de dizer mais nada, encostei a minha cabeça no seu
ombro e deixei que dos meus olhos corressem todas as lágrimas que
teriam de cair, não valia a pena sequer secá-las, logo a seguir viriam
muitas mais, tinha acabado de libertar-me do meu maior medo.
Passaram vários minutos, talvez horas, ou talvez, nas melhores das
hipóteses, o tempo tinha mesmo acabado de parar e a minha Mãe
acabou por falar:
- És a minha filha e eu amo-te acima de tudo, eu sempre te disse
que a única coisa importante para alcançar nesta vida era a felicidade,
não foi?
Consenti e ela continuou:
- E eu só quero que sejas feliz, independentemente dos caminhos
que escolhas, orgulho-me tanto de ti e basta olhares em teu redor,
tantos homossexuais que se assumem e conseguem ser felizes. Tu não
serás diferente, és a minha pequena lutadora e conseguirás tudo aquilo
que quiseres. Sempre que falhares e caíres, eu estarei aqui para te
apoiar, sempre.
Não foram poucas as vezes que tentei falar, mas as palavras de
pura gratidão que brotavam do meu coração, acabaram todas por
morrer nos meus lábios, depois de ouvir da pessoa que mais amo, que
me aceita tal como sou, o que haveria ainda por dizer?
Isto que vos conto não é ficção, é somente a verdade, tenho
imensa sorte, mesmo sem nunca ter dito fosse o que fosse sobre o
facto de ser lésbica, a minha mãe sabia-o melhor do que ninguém.
Muito me escondi e repugnei tudo o que era natural em mim, o
Amor é um sentimento e pertence a todos, sejam quais forem as suas
características!
Aberração? A quem me chama isso só tenho uma coisa a dizer: "O
monstro que vês em mim não passa de um reflexo teu!"
Vivam, amem, sejam felizes que isso, na realidade das coisas, é a
única coisa que realmente interessa.