Ora aqui está uma iniciativa a não perder!!!!
Nova edição da Feira do Livro LGBT, a decorrer de 27 a 31 de Outubro, no Centro LGBT.
Organizada pelo Centro de Documentação como nas anteriores edições, o foco principal da Feira é a promoção da literatura e autores/as LGBT existentes no mercado editorial português mas mantendo um espaço para a divulgação de outros géneros e autores, desde que integrados num mesmo objectivo de igualdade e de respeito pelos direitos humanos. Como já é habitual, a Feira terá uma secção de livros manuseados, doados para a ILGA Portugal para o efeito, e uma secção de livros novos, com uma selecção de obras clássicas e de títulos recentes no mercado, incluindo literatura, romance, poesia, teatro, estudos e ensaios, literatura infanto-juvenil. Este ano, estarão também presentes, como parceiros, a livraria Trama, as editoras Zayas e Ramiro Leão e a Bubok, editora de auto-publicação. Como novidade, este ano a Feira do Livro vai contar com a presença de escritores como Possidónio Cachapa, Nuno Nodin, Deanna Barroqueiro e Marisa Medeiros, entre outr@s, para conversar com o público sobre as suas obras. No primeiro dia da Feira será também inaugurada uma exposição de fotografias, de António Frazão. Sob o título «Leituras», a exposição de fotografias faz a ligação entre a palavra escrita e a imagem e relaciona o elemento icónico do livro com o elemento imagético da leitura
Ary dos Santos... Deixou-nos há 25 anos mas o que escreveu permanece sempre actual... Partilho quatro vídeos do album RUA DA SAUDADE, albúm de homenagem a Ary dos Santos... Para além das letras, as intérpretes fizeram um excelente trabalho... Confiram!
Aproveito este post, antes de fim de semana, para convidar todos quantos queiram, a assistir a uma leitura encenada da "história da sapinha que queria voltar a ser princesa!" a decorrer amanhã pelas 16:00 em Castelo Branco no largo da devesa, no âmbito do MAU - Mercado de Artesanato Urbano. Vai ser uma estreia para mim nestas andanças e acho que vai valer a pena! Portanto levem os filhos, os sobrinhos e apareçam!
Bom fim de semana!!!
:)
Terminei há algumas semanas atrás, de ler o livro "O Fruto Proibido" de autoria de Rita mae Brown. Retrata a história de uma lésbica que no decorrer da sua vida, no meio de muita aventura e desventura, encara a sua sexualidade de uma forma bastante normal. Com uma personalidade muito forte e com objectivos bem concretos, ela (quase) não olha a meios para alcançar os seus fins.
Foi a primeira vez que li um livro a retratar a homossexualidade de uma mulher, e tinha curiosidade nisso... Saber se os problemas com que nós homossexuais homens são idênticos aos que as mulheres lésbicas enfrentam. E a conclusão a que cheguei é que sim! O saír do armário é sempre complicado, seja homem ou mulher, mas fiquei com a sensação de que não existe tanto drama relativamente à orientação das mulheres.
É mais bem aceite...
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Em maré de livros, e com o tema da homossexualidade cada vez mais discutido, estão para breve o lançamento de dois livros distintos, dos quais faço agora eco. (obrigado Felizes Juntos pela informação)
- Livro “3º SEXO” da autoria da jornalista Raquel Lito, que se realizará no próximo dia 19 de Fevereiro, pelas 23,30 horas na Discoteca TRUMPS (Rua da Imprensa Nacional 104 B Lisboa – www.trumps.pt – 963160602 ).
São 12 depoimentos marcantes. Uma antiga estudante de teologia que trabalhou em linhas eróticas. Uma militar que não consegue assumir-se no trabalho. Um marido com vida dupla. Uma humorista agredida pela namorada.
Algumas figuras públicas também falam pela primeira vez, sem tabus, da sua atracção pelo mesmo sexo: um actor, um escritor, um piloto de automóveis e um chef de cozinha.
Confissões surpreendentes e corajosas num País onde ainda não é fácil assumir plenamente a homossexualidade, apesar da recente aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
- Livro “O casamento homossexual e o ordenamento jurídico-constitucional português”, de autoria de Isabel Baptista, juíza do Tribunal das Caldas, no dia 25 de Fevereiro, no salão nobre do Governo Civil de Santarém. A apresentação da obra será feita por Rui Rangel.
“A parte principal do livro, tirando o último capítulo, está escrita há dois anos, e faz parte dos meus seminários que integram o meu mestrado na Faculdade de Direito de Lisboa”, revelou a juíza.
A magistrada já tinha chegado à conclusão de que o Tribunal da Relação “devia ter considerado inconstitucional a norma que não permitia o casamento”, criticando também “outra perplexidade que levanta também questões de inconstitucionalidade, que é a não permissão da adopção pelos casais homossexuais”.
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Acabei de ler esta semana, o livro "Michael Tolliver está vivo" e aconselho vivamente, principalmente a quem leu as Histórias de São Francisco (ver aqui post). A forma como o autor (Armistead Maupin) retrata de forma tão natural, ternurenta e apaixonante a vida de um casal gay (com grande diferença de idade entre os dois), o seu dia-a-dia, as amizades, é tão engraçada que é impossível ficar indiferente. Mesmo para quem não leu as Histórias de São Francisco, o autor tem o cuidado de enquadrar as personagens sendo muito fácil criarmos uma "relação" rapidamente com elas.
Aconselho vivamente!
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Há alguns meses foi lançado o livro "Partilha-te" já por mim referido anteriormente aqui(disponível para download em www.partilhate.com). Basicamente trata-se de 149 histórias de homossexuais, amigos ou familiares que partilham a sua experiência nas mais variadas vertentes. Hoje publico uma dessas histórias, que ao lê-la me "transportou" para o momento em que - no dia que assumi a minha homossexualidade para o meu pai - o meu irmão me ligou depois de contactado pela minha mãe a contar o que se tinha passado. O meu irmão é militar e considero-o a minha antítese. Somos muitooooo diferentes, e dos vários traços da sua personalidade, salientam-se a sua virilidade e as milhentas aventuras que teve com mulheres. Por isso eu receava muito a sua reacção ao saber que o seu irmão era gay. Nesse dia ele ligou, conversamos normalmente (eu estava, aliás, ambos estavamos muito nervosos mas a tentar disfarçar) e na hora da despedida em que eu estava quase a pensar "Ufa, afinal ele não sabe de nada ainda!", eis que me pergunta "Não tens nada para me dizer?". Pronto, nesse momento caiu-me tudo!!! Para me tranquilizar ele quase não me deixou falar, e disse, emocionado: "Mano, já sabemos o que se passa e quero que saibas que eu e a tua cunhada estamos ao teu lado e te apoiaremos no que for necessário. Estamos um pouco chocados mas conta connosco.". Desde então, e (ainda) neste momento em que escrevo estas palavras, não consigo deixar de me emocionar. Foi dos momentos mais marcantes do meu com'out e ainda mexe muito comigo. A história do Partilha-me que transcrevo de seguida, retrata a situação de uma outra pessoa, o Ricardo (um dos principais impulsionadores do livro), e da forma como os seus irmãos receberam a notícia. Quem tiver curiosidade pode ler a história do meu com'out através do marcador "Contar aos pais".
Os meus irmãos
Durante muitos anos ouvi histórias de pessoas que tinham tido problemas em contar à família por isso sempre achei que eu não seria diferente. Mas chega uma altura da nossa vida em que não podemos continuar a fugir à realidade e a minha altura tinha chegado. Decidi então, no início do ano, contar aos meus irmãos. Cabia-me agora decidir se contar a todos ao mesmo tempo ou em separado. Por muitos conselhos que possamos pedir, no final de contas somos sempre nós a decidir.
Numa manhã em que estava a trabalhar fui invadido por uma onda de coragem e enviei uma mensagem aos meus irmãos a combinar um encontro pois precisava de falar com eles.
Começaram então chover as mensagens de resposta a perguntar se estava tudo bem e o que se passava. Foram dois ou três dias em que me preparei para todos os cenários possíveis menos para o cenário com que fui confrontado. Preparei também montes de coisas que queira dizer mas no momento da verdade nada desta preparação serviu.
Nada correu como eu planeei e não usei nenhum dos discursos que tinha preparado. No fim depois de alguma conversa de circunstância acabamos por nos sentar, eu de frente para eles e foi então que, estranhamente, fui invadido por uma calma enorme e lhes contei o
maior segredo da minha vida. As palavras que saíram da minha boca "sou homossexual"
provocaram diferentes reacções nos meus irmãos. No momento em que acabei de dizer a frase deu para ver as caras deles mudarem, mas o que aconteceu a seguir não era nada do que eu esperava. Reagiram muito bem, melhor do que qualquer dos cenários que eu tinha criado na minha mente, sendo que a única reacção "negativa" foi que eu já
devia ter contado há mais tempo.
Algo que me espantou também na reacção deles foi terem tentado perceber o quanto eu devo ter sofrido ao esconder durante tantos anos (17 para ser mais preciso) a minha verdadeira orientação sexual. No momento em que lhes contei a verdade pareceu que o tempo parou e tive tempo de observar cada uma das reacções que eles tiveram e decidi
então perguntar o que pensaram no momento em que contei.
As minhas irmãs disseram-me algo que eu já desconfiava, ou seja que já "sabiam" mas só esperavam por confirmação e o meu irmão que não imaginava e que sempre pensou que eu fosse tímido com as raparigas, mas que me apoiava a 100% e que só tinham pena que eu
tivesse demorado tanto tempo para contar.
No final da conversa senti-me livre, mas nos dias que se seguiram andei completamente perdido com uma confusão de sentimentos enorme. Tudo isso acabou por passar com o tempo e os meus irmãos têm-me dado muito apoio o que é muito importante pois mais à frente iria precisar do apoio deles para contar aos meus pais.
Ricardo M. Santos
27 Anos
Mais um livrinho que terminei (quem diria há uns anos atrás que me ia tornar num leitor assíduo de livros!? Será da idade?), desta vez O MESSIAS DOS JUDEUS, e adorei! A história é linda, sem muitos rócócós pelo meio. Objectiva qb, aborda vários temas problemáticos, mas foca-se na paixão vivida por dois adolescentes (gays) que embora vivendo em mundos diferentes, e descobrindo pouco a pouco a sua sexualidade, tentaram levar por diante o seu sonho de ficarem juntos e darem vida ao seu amor. Com avanços e recuos, com aventuras e medo, com ousadia e timidez, fica-se agarrado a esta história e lê-se com gosto e rapidez tal é a vontade de ver o desenrolar dos acontecimentos!
Recomendo!
E como prometido, publico o último poema que poderão ouvir hoje, Sábado, de madrugada, no programa Sessão da Noite da Antena 1, pela uma hora da madrugada. O autor já sabem quem é, o Alexandre O Grande, ou Alexandre Inácio, e é com muito prazer e com um grande bem-haja que vos deixo as suas palavras...
“Te Deum”
Desesperado…
Moribundo…
Ajoelho-me ao altar da igreja velha.
O Silêncio cáustico chupa as lágrimas
Que se me jorram das entranhas…
Em jejum,
Sem fome…
A Fraqueza do espírito contorce-me o corpo.
Desabo os ossos pelo chão…
E desmaio a Vida…
Gelado,
Sem frio…
Entreabro os olhos e vejo a Luz…
Rompendo a estátua de Cristo,
Sai ele próprio vivo, inteiro, nú.
Assustado,
Incrédulo…
Vejo-o aproximando-se de mim
Príncipe, perfeito, sem coroa, nem espinhos
Cegando-me com os olhos doces de alecrim.
Firme,
Misericordioso…
Estende o braço e segura a minha mão.
Aligeira-se a minha Dor
E sorri-me calmo, com mansidão…
De rompante,
De surpresa,
Esmurra-me a cara sem defesa
Caio ao chão perdido
E atira-se em pontapés ao corpo estendido.
Contorço-me,
Aflito…
Arrasta-me pelos cabelos
Violento, pelos bancos cúmplices
Choro desterrado as vísceras que me doem.
À porta,
Frente ao Mundo,
Ergue-me moribundo nos seus braços
E dá-me um beijo terno, nos lábios,
Que me sabe a fel…
Desnorteado,
Sem sentidos,
Correndo-me as lágrimas pelo rosto em sangue,
Pergunto-lhe:
Serei expulso do céu,
Por fornicar homens como eu?
Responde-me apenas:
A tua alma é minha.
O teu corpo é teu.
Como já referi, na madrugada do próximo Sábado, mais propriamente à uma da manhã, irá para o ar mais um programa "Sessão da Noite" da Antena 1. Este terá temática gay e nele ir-se-ão ouvir três poemas: um, o Cores Proibidas, este que hoje divulgo e um outro que divulgarei antes do próximo Sábado. O autor, Alexandre Inácio, um leitor e amigo do blog é o autor deste poema que hoje publico e do próximo a publicar. Agora digam lá que este rapaz não tem jeito?! hein?!
Deliciem-se....
De Máscaras Feito
Não tenho corpo
Nem uma alma só
Se tiro a máscara
Fico nú.
Em carne viva
Sem pele
Gasta, podre
Em nojo crú.
Asco de mim,
Ser assim.
Actor sem papel,
Sempre em palco,
Sempre outro,
Nunca eu por mim.
Por amar
Quem não convém
Por foder
O que se desdém
Mudo a alma
Visto o prazer
Proibido
Secreto meu
Conhecido
Desejado
Do inferno ao céu.
E de máscaras feito
Ponho e reponho
Personagens
De pesadelo,
De sonho
Ocultas, escondidas
D’alheio peito.
Espelho reflectido
Dou imagem
Que me dão
E assim vivo
Feliz
Expurgando
Purificando
O que ninguém se diz.
Sou messias.
Entrego o corpo.
Entrego a vida.
Salvo o mundo
Do pecado
Da carne
Reprimida…
Não resisto a transcrever uma das 149 histórias do livro Partilha-te... Ainda não as li todas, mas das que li esta tocou-me particularmente...
É afinal a história de muitos nós...
As férias de Verão na aldeia sabiam sempre bem. Era uma maneira
de descomprimir do stress das aulas e dos professores, de todas as
responsabilidades que uma cidade nos põe nos ombros. Lá, na aldeia, o
tempo não corre. Os vales verdejantes aconchegam-nos o coração e a
alma. Os vales verdejantes e os teus cabelos ruivos. Um contraste quase
outonal. Ainda hoje os teus cabelos ruivos e a tua tez levemente
sardenta me atormentam o espírito. Éramos unha com carne.
Reparei em ti quando devíamos ter para aí doze anos. Na altura
éramos putos rebeldes e divertíamo-nos a jogar playstation nas tardes
soalheiras em tua casa. O sol era imenso e não dava para brincar cá
fora. Só saíamos à tardinha, quando começava a soprar o vento fresco
de norte. Já nessa altura eu gostava quando os teus braços roçavam ao
de leve nos meus, enquanto nos aconchegávamos no sofá estreito, em
frente à televisão, a ver o Jet Set Radio no seu skate maldito.
E os anos passaram. Um, dois, três, quatro. A nossa amizade foi
crescendo. Éramos melhores amigos naquela aldeia. Os outros rapazes
gostavam de ir para o rio ver as moças, jogar à bola e andar de mota. A
nós nada disso nos apelava e punham-nos de lado. Passávamos o
tempo a falar de jogos, de tecnologia, de música, de livros. E fomos
crescendo, lado a lado, solitários. No fim do Verão eu regressava
sempre à urbe, ao bulício, à confusão. E tu por lá ficavas resignado,
cada vez mais só, na tua aldeia. Soube que ultimamente os outros
rapazes gozavam contigo e eu não gostava disso. Chamavam-te
“cenoura”, “cagado das moscas” e coisas assim. E tu fazias orelhas
moucas a eles todos. Era uma alegria sempre que me vias e vinhas logo
para o pé de mim a correr. Íamos para o miradouro, longe de tudo e
todos, olhar o rio. Lá, abraçavas-me, e agarravas-te a mim. Preguiçoso
como eras, deitavas-te no meu colo e deixavas que eu te fizesse festas,
devagarinho, no cabelo. Enquanto fechavas os olhos e dizias coisas
muito baixinho e lentamente. E eu olhava-te de cima e só desejava que
o tempo nunca mais passasse. Estava a ficar completamente apanhado
e não havia retorno.
Neste último ano a tua mãe dera-te um telemóvel. Passaste o ano a
melgar-me com mensagens, às quais, eu respondia sempre, presto e
com carinho. Queixavas-te de um Inverno rigoroso e solitário que
nunca mais passava. De tardes e noites enfiado em casa só a jogar e a
ler porque não tinhas mais nada para fazer nem ninguém com quem
falar. E uma solidão que te começava a enlouquecer. Eu, na cidade,
rodeado de gente e facilidades. Mas cada vez mais só, também. Não me
revia em nenhum dos meus colegas que só se pareciam interessar por
futilidades. E sempre que pensava em amor não era uma moça que me
vinha à ideia. Eras tu. Tu, quem me aparecia sempre nos sonhos.
Sonhava contigo no meu colo, no miradouro, e em como, devagarinho,
me baixava e tu deixavas que os meus lábios tocassem nos teus. Ao
pôr-do-sol. Era um cenário perfeito. Era uma fantasia perfeita. E
sobrevivi mais um ano inteiro na cidade à custa dela.
Quando chegou a Julho reunimo-nos de novo. O Julho dos nossos
dezasseis anos iria ser mágico, pensei. Não podia ser de outra forma.
Tinhas crescido e criado alguma barriguinha. Nada que te afectasse.
Era mais qualquer coisa para apalpar e com a qual eu me podia meter.
Tu afastavas-te a rir e a dizer “Pá, pára lá com isso”, mas sem levar a
mal. No entanto estavas mais frio, mais distante. Apenas um pouco,
mas notava-se. Os anos iam tendo peso em ti. E a descoberta de ti
mesmo também. O que era natural, também me vinha descobrindo a
mim próprio. E nesta altura já não tinha dúvidas. Do que eu era, de
quem eu era, do que sentia. Mas o tempo ia passando e não havia
novidades. As mesmas brincadeiras de sempre, as mesmas conversas,
era tudo bom, mas sentia falta de qualquer coisa. Sentia falta de mais.
De um passo, do nosso beijo, do beijo que tanto imaginei. E de tudo o
que se poderia seguir. Mas tu não tomavas iniciativas e fechavas-te em
copas. Uma vez, em tua casa, quando jogávamos playstation, fui atrás
de ti, espreitar-te, à casa de banho. Não fiz por mal, tinha muita
curiosidade. Tu reparaste. Mas nada disseste. Baixaste apenas a cabeça
e ficaste calado. Pareceste ficar um pouco incomodado. Já te conhecia
bem demais. Quando os outros rapazes gozavam contigo era isso que
fazias. Baixavas a cabeça e fechavas-te em copas.
Outro dia, quando passeávamos na estrada, pus-te a mão no
ombro e comecei a apertá-lo ao de leve. Nada que não tivesse feito
antes, que não fosse natural entre nós. E tu nada disseste. Mas quando
a dona Arminda se aproximou, ao fundo da curva, mal te apercebeste
da sua presença, retiraste-me a mão. Foi um pequeno gesto. Muito
subtil, que ninguém notaria. Mas que eu notei e me deixou triste. Nessa
noite tive vontade de chorar. Parecia que te estava a perder aos poucos.
Comecei a entrar em turbilhão na minha cabeça. Não podia ser. A
imagem do beijo encorajava-me. De ti no meu colo. No dia seguinte
levei-te ao miradouro.
Mas não te deitaste no meu colo. Ficaste apenas calado com a
cabeça a olhar o longe. Coloquei as minhas mãos nas tuas costas e fizte
umas leves massagens. Mas tu não rolaste nem deste patinha. Não te
derreteste como era costume. Ficaste como uma estátua. Pus a mão no
teu cabelinho e afaguei-o. Virei a tua cara para a minha e disse apenas:
- Tenho algo muito importante para te dizer.
Os teus olhos cruzaram os meus e piscaram. Quase um esgar de
dor. Pareceram minutos infindáveis os segundos que me contemplaste
a tentar ler a minha alma. E quando acabaste de o fazer só fechaste os
olhos, a medo, retorquindo:
- Não sei se quero ouvir isto...
Mas já era tarde. Eu já ia embalado. Ou era agora ou nunca. Eu
não te podia perder.
- Acho que estou apaixonado por ti. Eu gosto de ti.
Ficaste parado, sem reacção. Olhaste para o rio. Desviaste o olhar
de mim. Eu desinchei como um balão, mas quase tremia expectante.
Temi uma fúria desmedida. Pensei muito nisso quando antecipava este
momento. Podias ficar furioso. Mas eu tinha de arriscar. Porque ainda
acreditava que, no fundo, te irias render e eu iria ter o meu beijo.
Mas não. Nem ficaste furioso, nem eu tive o meu beijo. Limitastete
a levantar, baixar a cabeça e em silêncio desaparecer.
- Tenho de ir jantar...
Disseste com voz sumida.
E eu fiquei prostrado a olhar o vazio. Uma lágrima veio por mim
abaixo. Suspirei muito. “Já está!” Pensei. “Agora não há volta a dar”.
Durante a semana toda não vieste à rua. Não apareceste. Não
respondeste a nenhuma mensagem. Nada. Um silêncio dilacerante. E
eu não tinha coragem sequer de te ir bater à porta. Passei a semana a
comer mal, a dormir mal. A minha avó achou que eu estava doente e
resolveu mandar-me de volta para casa, para a cidade. E eu concordei.
Já não estava ali a fazer nada. O meu paraíso estava um inferno. A
minha mente andava a mil à hora e não percebia, não conseguia
compreender o que se passava. Como tudo tinha mudado. E como
tudo tinha ficado tão difícil. No dia seguinte partiria. Antes porém
passei por tua casa, tinha mesmo de te ver. Com toda a coragem do
mundo bati à porta. Abriu-a a tua mãe. Sorriu-me como sempre, nela
nada houvera mudado e disse-me para entrar e avisou que eu estava ali.
Entrei a medo e fui até à sala. Estavas a jogar, como sempre, e nem
viraste a cara para mim. Disse-te apenas:
- Amanhã vou embora. Volto para casa.
Continuaste a jogar como se nada fosse. Nem estremeceste. Fiquei
impávido e chamei o teu nome baixinho. Acabei por murmurar.
- Desculpa...
Não sei porque o disse. Mas disse-o. Vacilaste. Senti uma pequena
reacção, uma palavra que finalmente penetrou a tua muralha silenciosa.
Muito baixinho murmuraste a custo e muito devagarinho, sempre sem
virar a cara.
- A minha boca é um túmulo... Faz boa viagem... E que tenhas
muita sorte na vida...
Virei-me e parti com o coração destroçado. Mas ao mesmo tempo
aliviado. Se não me tivesse declarado ficaria para sempre a pensar no
que poderia ter acontecido. Assim, o assunto morreu ali. Nunca soube
o que realmente se passou. O que realmente iria na tua cabeça, se
tinhas medo. Porque antes nunca mostraras medo. Se gostavas de
alguém. Como iria o teu coração. Porque nunca te ouvira falar em
raparigas. Nunca te ouvira falar em ninguém. Ainda hoje conservo no
meu telemóvel a mensagem enviada meses antes.
- Quando vens para a aldeia? Já estou a ficar doido de estar aqui
sozinho. As saudades são infinitas...
André Abel Aaires
22 Anos
Brevemente, na Antena 1, no programa Sessão da Noite, irá ser dedicado à temática gay. A convite do autor do programa, aceitei declamar uns poemas, três mais precisamente, escritos pelo Alexandre Inácio, leitor do blog e (já) amigo pessoal. Gentilmente aceitou o desafio e escreveu dois poemas, e traduziu este que hoje publico. Fica também uma versão da mesma música, um solo, a piano.. Ponham a tocar e leiam o poema... ;)
Forbidden Colours (Cores Proibidas) é o título de uma música (1983),composição do japonês Ryuichi Sakamoto, letra e interpretação do britânico David Sylvian, trilha principal do filme, do mesmo ano, "Merry Christmas, Mr.Lawrence", do realizador Nagisa Oshima. A letra descreve o sofrimento e contrariedades resultantes do peso das mentalidades a respeito da homossexualidade. A luta interior contra si próprio, sintetizada na expressão do refrão "my love wears forbidden colours..."
CORES PROIBIDAS
As feridas nas tuas mãos parecem nunca sarar
Eu pensava que tudo o que era preciso era acreditar...
Aqui estou eu, longe de ti à distância de uma vida
O sangue de cristo, ou o batuque do meu coração
O meu amor veste cores proibidas,
A minha vida acredita...
Anos sem sentido correm sobre mim
São milhões os que dariam a vida por ti
Será que nada sobrevive?
Aprendo a lidar com estes sentimentos à minha volta,
As minhas mãos na terra, enterradas dentro de mim.
O meu amor veste cores proibidas,
A minha vida acredita, outra vez, em ti.
Caminharei em círculos
Duvidando do terreno que fica para trás,
Tentando mostrar uma fé inquestionável em tudo
Aqui estou eu, à distância de uma vida, longe de ti
O sangue de cristo, ou o coração que muda.
O meu amor veste cores proibidas
A minha vida acredita
O meu amor veste cores probidas
A minha vida acredita, outra vez, em ti.
Poucas vezes temos lançamentos de livros de autores portugueses de temática gay. O mês de Junho de 2009, ao que parece trouxe-nos ao mesmo tempo dois livros: "A CHAVE DO ARMÁRIO" de Miguel Vale de Almeida e PARTILHA-TE, resultado da partilha de histórias partilhadas por pessoas homossexuais.
É motivo de congratulação estas duas edições, mostra que algo está a mudar, mas por outro lado, achei estranho, bastante estranho, que os respectivos lançamentos coincidissem no dia e na hora! Pergunto eu: porquê?! Eu até gostaria de ter ido ao lançamento de ambos, mas como não me consegui dividir em dois (estranho não é?) optei por ir ao que me calhava mais em caminho... Já ouvi várias vezes falar da pouca união entre as várias associações LGBT mas nunca dei muita importância, mas esta coincidência de datas parece-me estranha, até porque o lançamento do PARTILHA-TE estava inicialmente programado para outro dia e acabou por ser alterado para o dia 24... Enfim, talvez possa ser apenas uma infeliz coincidência mas penso que no futuro poderiam e deveriam tentar fazer com que isto não se repetisse. Somos tão poucos a ter coragem e a dar voz e corpo, que só juntos, todos juntos, poderemos conseguir esse objectivo. Já agora, porque é que a OPUS GAY não participou nas festividades? Hein??
Relativamente aos livros, devido ao atraso da jornalista Fernanda Câncio (segundo ela "já é normal eu chegar atrasada!") não pude ficar até ao final do lançamento do A CHAVE DO ARMÁRIO e ouvir o autor falar... No entanto, com a intervenção da Fernanda pareceu-me que deve ser um livro interessante... Comprei e já está em fila de espera para leitura!
Quanto ao PARTILHA-TE que comecei hoje a ler, acho que qualquer homossexual gostará de ler as histórias partilhadas, tão diferentes, e ao mesmo tempo tão iguais... Um livro fruto da boa vontade dos leitores, na blogosfera, e que só por isso demonstra que algo está a mudar no nosso país...
Ficam as sugestões!
Boas leituras!!!
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PS: Queria partilhar que no lançamento do livro no Centro LGBT, foi muitooooo giro ver um casal de lésbicas e um outro casal de gays, cada um com o seu filhote... Que inveja que senti!!! :))
Acabei ontem de ler um outro livro, desta feita purosexo.com, de Dennis Cooper, da editora Bico de Pena. É talvez o livro, talvez não, é mesmo, o livro mais violento que alguma vez li. Acredito que muita gente não consiga sequer chegar ao final do livro tal é a descrição nua e crua de uma vertente do sexo levada ao extremo!
O livro retrata basicamente mensagens deixadas em fóruns da internet, fóruns de foro sexual, para encontrar e relatar experiências com prostitutos gays. Para além de nos dar a conhecer o lado mais negro da mente humana (que muitos poderão achar ficção mas que eu acho que existe!), relata experiências sexuais sado masoquistas e para lá disso... Foi este livro que li nas mini-férias e ele serviu de mote a algumas discussões, pois todos tiveram curiosidade em dar uma vista de olhos. Ninguém fica indiferente e o primeiro pensamento que surge é "Isto é possível?". E por esse facto, por termos discutido sobre o assunto já valeu a pena, mas também para ficar a conhecer as mentes perversas e doentias com quem nos podemos cruzar, sem aparentemente sabermos...
Sugiro para quem tem tomates! Ehehe! É de homem!!! Ehehehe!
A sério, é muito violento, no entanto, eu gostei de ler e é quase impossível não querermos chegar ao final da história do Brad!
:))
Acabo de ler o livro As Lágrimas de Bibi Zanussi. Com uma capa bem sugestiva (e que segundo o autor, Pedro Gorski, foi recusada a sua venda em muitas livrarias devido a esta capa, e noutras o livro foi vendido por baixo da mesa), e sendo um título de um autor português de temática gay, fiquei obviamente curioso. Comprei através do site da Pergaminho, uma série de títulos, e este custou 14 euros. O livro é composto por vários contos ficcionados, suponho eu, e cada um à sua maneira, retrata vivências diferentes de gays... Algumas das histórias passam-se em Lisboa em cenários que facilmente conseguimos visualizar mentalmente o que dá um tom mais realista à coisa!
Em apreciação geral, gostei do livro, embora esteja longe de ser um livro apaixonante. Lê-se bem, e eu, muito sinceramente, saltei muitas vezes texto, porque embora bem intencionado, o autor encheu as histórias com muita "palha", o que retira objectividade à coisa. E eu sou do tipo mais objectivo, e tenho alguma dificuldade em gostar de ler cinco linhas quando se pode dizer a mesma coisa em duas ou três palavras! Achei que é bastante notório o facto de tentar dar algo à escrita de forma a torná-la mais intelectual, ou seja lá o que fôr e para mim isso é totalmente dispensável. Mesmo assim não dou o dinheiro como perdido e algumas das histórias são bastante interessantes e é bem provável que quem leia se identifique com algumas delas!
Fica a sugestão!
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Este foi o livro das minhas últimas férias, "fio solto", de Dennis Cooper, editado em Portugal pela editora Bico de Pena...
Bem, trata-se de um livro para maiores de 18 anos!
É um livro um pouco louco... Ou pelo menos retrata a loucura de um moço que vive um amor proibido... Com se não chegasse uma homossexualidade não aceite por ele próprio e portanto uma constante luta interior, o rapaz apaixona-se pelo próprio irmão... Um romance trágico, que demonstra bem a dificuldade que por vezes é aceitarmos a nossa sexualidade, que neste caso em particular é levada ao extremo...
Fácil leitura...
11 euros...
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TEMPOS DE CRISE
Chegou o ano mais temido das últimas décadas. Mesmo os principais agentes do palco político, que tantos malabarismos fazem para esconder a realidade, já avisaram: preparem--se, este vai ser um ano complicado. Já cada um de nós sentiu o impacto da recessão, mas não foi assim que nos habituámos sempre a viver? Todos os anos se ouve a palavra crise colada a qualquer contexto. Mas o papão desta vez vem com um lifting e preparado para durar…
A crise económica existe, de facto. Mas devia assustar tanto como a crise que existe nos valores. Numa sociedade em que mais facilmente se aceitam imagens de violência do que um acto de carinho entre duas pessoas do mesmo sexo, algo vai mal. O caso recente passado em Itália é sintomático. As cenas dos beijos entre os dois cowboys de Brokeback Mountain foram esquartejadas, quando o filme passou na televisão pública.
Em Portugal, por exemplo, numa altura em que o casamento homossexual era um dos temas incontornáveis, o Prós e Contras, espaço de debate semanal na RTP1, pura e simplesmente, ignorou o tema. Segundo a apresentadora havia temas mais urgentes para discutir
na sociedade portuguesa. Ora aqui está uma boa explicação para aquilo que se aproxima em ano de eleições… e de crise.
Para quê discutir temas ditos fracturantes, quando o País tem a obrigação de se unir para ultrapassar tempos difíceis? Matérias como esta vão continuar a ser inferiorizadas porque não se encontram nos altos desígnios da Nação. E assim, de crise em crise, os nossos políticos vão aproveitando e fugindo aos temas que os atemorizam. Ignorando que ao adiarem estas questões estão a contribuir para uma sociedade menos justa, igualitária e feliz. E em permanente crise.
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