Ora aqui está uma iniciativa a não perder!!!!
Nova edição da Feira do Livro LGBT, a decorrer de 27 a 31 de Outubro, no Centro LGBT.
Organizada pelo Centro de Documentação como nas anteriores edições, o foco principal da Feira é a promoção da literatura e autores/as LGBT existentes no mercado editorial português mas mantendo um espaço para a divulgação de outros géneros e autores, desde que integrados num mesmo objectivo de igualdade e de respeito pelos direitos humanos. Como já é habitual, a Feira terá uma secção de livros manuseados, doados para a ILGA Portugal para o efeito, e uma secção de livros novos, com uma selecção de obras clássicas e de títulos recentes no mercado, incluindo literatura, romance, poesia, teatro, estudos e ensaios, literatura infanto-juvenil. Este ano, estarão também presentes, como parceiros, a livraria Trama, as editoras Zayas e Ramiro Leão e a Bubok, editora de auto-publicação. Como novidade, este ano a Feira do Livro vai contar com a presença de escritores como Possidónio Cachapa, Nuno Nodin, Deanna Barroqueiro e Marisa Medeiros, entre outr@s, para conversar com o público sobre as suas obras. No primeiro dia da Feira será também inaugurada uma exposição de fotografias, de António Frazão. Sob o título «Leituras», a exposição de fotografias faz a ligação entre a palavra escrita e a imagem e relaciona o elemento icónico do livro com o elemento imagético da leitura
Terminei há algumas semanas atrás, de ler o livro "O Fruto Proibido" de autoria de Rita mae Brown. Retrata a história de uma lésbica que no decorrer da sua vida, no meio de muita aventura e desventura, encara a sua sexualidade de uma forma bastante normal. Com uma personalidade muito forte e com objectivos bem concretos, ela (quase) não olha a meios para alcançar os seus fins.
Foi a primeira vez que li um livro a retratar a homossexualidade de uma mulher, e tinha curiosidade nisso... Saber se os problemas com que nós homossexuais homens são idênticos aos que as mulheres lésbicas enfrentam. E a conclusão a que cheguei é que sim! O saír do armário é sempre complicado, seja homem ou mulher, mas fiquei com a sensação de que não existe tanto drama relativamente à orientação das mulheres.
É mais bem aceite...
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Em maré de livros, e com o tema da homossexualidade cada vez mais discutido, estão para breve o lançamento de dois livros distintos, dos quais faço agora eco. (obrigado Felizes Juntos pela informação)
- Livro “3º SEXO” da autoria da jornalista Raquel Lito, que se realizará no próximo dia 19 de Fevereiro, pelas 23,30 horas na Discoteca TRUMPS (Rua da Imprensa Nacional 104 B Lisboa – www.trumps.pt – 963160602 ).
São 12 depoimentos marcantes. Uma antiga estudante de teologia que trabalhou em linhas eróticas. Uma militar que não consegue assumir-se no trabalho. Um marido com vida dupla. Uma humorista agredida pela namorada.
Algumas figuras públicas também falam pela primeira vez, sem tabus, da sua atracção pelo mesmo sexo: um actor, um escritor, um piloto de automóveis e um chef de cozinha.
Confissões surpreendentes e corajosas num País onde ainda não é fácil assumir plenamente a homossexualidade, apesar da recente aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
- Livro “O casamento homossexual e o ordenamento jurídico-constitucional português”, de autoria de Isabel Baptista, juíza do Tribunal das Caldas, no dia 25 de Fevereiro, no salão nobre do Governo Civil de Santarém. A apresentação da obra será feita por Rui Rangel.
“A parte principal do livro, tirando o último capítulo, está escrita há dois anos, e faz parte dos meus seminários que integram o meu mestrado na Faculdade de Direito de Lisboa”, revelou a juíza.
A magistrada já tinha chegado à conclusão de que o Tribunal da Relação “devia ter considerado inconstitucional a norma que não permitia o casamento”, criticando também “outra perplexidade que levanta também questões de inconstitucionalidade, que é a não permissão da adopção pelos casais homossexuais”.
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Acabei de ler esta semana, o livro "Michael Tolliver está vivo" e aconselho vivamente, principalmente a quem leu as Histórias de São Francisco (ver aqui post). A forma como o autor (Armistead Maupin) retrata de forma tão natural, ternurenta e apaixonante a vida de um casal gay (com grande diferença de idade entre os dois), o seu dia-a-dia, as amizades, é tão engraçada que é impossível ficar indiferente. Mesmo para quem não leu as Histórias de São Francisco, o autor tem o cuidado de enquadrar as personagens sendo muito fácil criarmos uma "relação" rapidamente com elas.
Aconselho vivamente!
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Há alguns meses foi lançado o livro "Partilha-te" já por mim referido anteriormente aqui(disponível para download em www.partilhate.com). Basicamente trata-se de 149 histórias de homossexuais, amigos ou familiares que partilham a sua experiência nas mais variadas vertentes. Hoje publico uma dessas histórias, que ao lê-la me "transportou" para o momento em que - no dia que assumi a minha homossexualidade para o meu pai - o meu irmão me ligou depois de contactado pela minha mãe a contar o que se tinha passado. O meu irmão é militar e considero-o a minha antítese. Somos muitooooo diferentes, e dos vários traços da sua personalidade, salientam-se a sua virilidade e as milhentas aventuras que teve com mulheres. Por isso eu receava muito a sua reacção ao saber que o seu irmão era gay. Nesse dia ele ligou, conversamos normalmente (eu estava, aliás, ambos estavamos muito nervosos mas a tentar disfarçar) e na hora da despedida em que eu estava quase a pensar "Ufa, afinal ele não sabe de nada ainda!", eis que me pergunta "Não tens nada para me dizer?". Pronto, nesse momento caiu-me tudo!!! Para me tranquilizar ele quase não me deixou falar, e disse, emocionado: "Mano, já sabemos o que se passa e quero que saibas que eu e a tua cunhada estamos ao teu lado e te apoiaremos no que for necessário. Estamos um pouco chocados mas conta connosco.". Desde então, e (ainda) neste momento em que escrevo estas palavras, não consigo deixar de me emocionar. Foi dos momentos mais marcantes do meu com'out e ainda mexe muito comigo. A história do Partilha-me que transcrevo de seguida, retrata a situação de uma outra pessoa, o Ricardo (um dos principais impulsionadores do livro), e da forma como os seus irmãos receberam a notícia. Quem tiver curiosidade pode ler a história do meu com'out através do marcador "Contar aos pais".
Os meus irmãos
Durante muitos anos ouvi histórias de pessoas que tinham tido problemas em contar à família por isso sempre achei que eu não seria diferente. Mas chega uma altura da nossa vida em que não podemos continuar a fugir à realidade e a minha altura tinha chegado. Decidi então, no início do ano, contar aos meus irmãos. Cabia-me agora decidir se contar a todos ao mesmo tempo ou em separado. Por muitos conselhos que possamos pedir, no final de contas somos sempre nós a decidir.
Numa manhã em que estava a trabalhar fui invadido por uma onda de coragem e enviei uma mensagem aos meus irmãos a combinar um encontro pois precisava de falar com eles.
Começaram então chover as mensagens de resposta a perguntar se estava tudo bem e o que se passava. Foram dois ou três dias em que me preparei para todos os cenários possíveis menos para o cenário com que fui confrontado. Preparei também montes de coisas que queira dizer mas no momento da verdade nada desta preparação serviu.
Nada correu como eu planeei e não usei nenhum dos discursos que tinha preparado. No fim depois de alguma conversa de circunstância acabamos por nos sentar, eu de frente para eles e foi então que, estranhamente, fui invadido por uma calma enorme e lhes contei o
maior segredo da minha vida. As palavras que saíram da minha boca "sou homossexual"
provocaram diferentes reacções nos meus irmãos. No momento em que acabei de dizer a frase deu para ver as caras deles mudarem, mas o que aconteceu a seguir não era nada do que eu esperava. Reagiram muito bem, melhor do que qualquer dos cenários que eu tinha criado na minha mente, sendo que a única reacção "negativa" foi que eu já
devia ter contado há mais tempo.
Algo que me espantou também na reacção deles foi terem tentado perceber o quanto eu devo ter sofrido ao esconder durante tantos anos (17 para ser mais preciso) a minha verdadeira orientação sexual. No momento em que lhes contei a verdade pareceu que o tempo parou e tive tempo de observar cada uma das reacções que eles tiveram e decidi
então perguntar o que pensaram no momento em que contei.
As minhas irmãs disseram-me algo que eu já desconfiava, ou seja que já "sabiam" mas só esperavam por confirmação e o meu irmão que não imaginava e que sempre pensou que eu fosse tímido com as raparigas, mas que me apoiava a 100% e que só tinham pena que eu
tivesse demorado tanto tempo para contar.
No final da conversa senti-me livre, mas nos dias que se seguiram andei completamente perdido com uma confusão de sentimentos enorme. Tudo isso acabou por passar com o tempo e os meus irmãos têm-me dado muito apoio o que é muito importante pois mais à frente iria precisar do apoio deles para contar aos meus pais.
Ricardo M. Santos
27 Anos
Mais um livrinho que terminei (quem diria há uns anos atrás que me ia tornar num leitor assíduo de livros!? Será da idade?), desta vez O MESSIAS DOS JUDEUS, e adorei! A história é linda, sem muitos rócócós pelo meio. Objectiva qb, aborda vários temas problemáticos, mas foca-se na paixão vivida por dois adolescentes (gays) que embora vivendo em mundos diferentes, e descobrindo pouco a pouco a sua sexualidade, tentaram levar por diante o seu sonho de ficarem juntos e darem vida ao seu amor. Com avanços e recuos, com aventuras e medo, com ousadia e timidez, fica-se agarrado a esta história e lê-se com gosto e rapidez tal é a vontade de ver o desenrolar dos acontecimentos!
Recomendo!
Não resisto a transcrever uma das 149 histórias do livro Partilha-te... Ainda não as li todas, mas das que li esta tocou-me particularmente...
É afinal a história de muitos nós...
As férias de Verão na aldeia sabiam sempre bem. Era uma maneira
de descomprimir do stress das aulas e dos professores, de todas as
responsabilidades que uma cidade nos põe nos ombros. Lá, na aldeia, o
tempo não corre. Os vales verdejantes aconchegam-nos o coração e a
alma. Os vales verdejantes e os teus cabelos ruivos. Um contraste quase
outonal. Ainda hoje os teus cabelos ruivos e a tua tez levemente
sardenta me atormentam o espírito. Éramos unha com carne.
Reparei em ti quando devíamos ter para aí doze anos. Na altura
éramos putos rebeldes e divertíamo-nos a jogar playstation nas tardes
soalheiras em tua casa. O sol era imenso e não dava para brincar cá
fora. Só saíamos à tardinha, quando começava a soprar o vento fresco
de norte. Já nessa altura eu gostava quando os teus braços roçavam ao
de leve nos meus, enquanto nos aconchegávamos no sofá estreito, em
frente à televisão, a ver o Jet Set Radio no seu skate maldito.
E os anos passaram. Um, dois, três, quatro. A nossa amizade foi
crescendo. Éramos melhores amigos naquela aldeia. Os outros rapazes
gostavam de ir para o rio ver as moças, jogar à bola e andar de mota. A
nós nada disso nos apelava e punham-nos de lado. Passávamos o
tempo a falar de jogos, de tecnologia, de música, de livros. E fomos
crescendo, lado a lado, solitários. No fim do Verão eu regressava
sempre à urbe, ao bulício, à confusão. E tu por lá ficavas resignado,
cada vez mais só, na tua aldeia. Soube que ultimamente os outros
rapazes gozavam contigo e eu não gostava disso. Chamavam-te
“cenoura”, “cagado das moscas” e coisas assim. E tu fazias orelhas
moucas a eles todos. Era uma alegria sempre que me vias e vinhas logo
para o pé de mim a correr. Íamos para o miradouro, longe de tudo e
todos, olhar o rio. Lá, abraçavas-me, e agarravas-te a mim. Preguiçoso
como eras, deitavas-te no meu colo e deixavas que eu te fizesse festas,
devagarinho, no cabelo. Enquanto fechavas os olhos e dizias coisas
muito baixinho e lentamente. E eu olhava-te de cima e só desejava que
o tempo nunca mais passasse. Estava a ficar completamente apanhado
e não havia retorno.
Neste último ano a tua mãe dera-te um telemóvel. Passaste o ano a
melgar-me com mensagens, às quais, eu respondia sempre, presto e
com carinho. Queixavas-te de um Inverno rigoroso e solitário que
nunca mais passava. De tardes e noites enfiado em casa só a jogar e a
ler porque não tinhas mais nada para fazer nem ninguém com quem
falar. E uma solidão que te começava a enlouquecer. Eu, na cidade,
rodeado de gente e facilidades. Mas cada vez mais só, também. Não me
revia em nenhum dos meus colegas que só se pareciam interessar por
futilidades. E sempre que pensava em amor não era uma moça que me
vinha à ideia. Eras tu. Tu, quem me aparecia sempre nos sonhos.
Sonhava contigo no meu colo, no miradouro, e em como, devagarinho,
me baixava e tu deixavas que os meus lábios tocassem nos teus. Ao
pôr-do-sol. Era um cenário perfeito. Era uma fantasia perfeita. E
sobrevivi mais um ano inteiro na cidade à custa dela.
Quando chegou a Julho reunimo-nos de novo. O Julho dos nossos
dezasseis anos iria ser mágico, pensei. Não podia ser de outra forma.
Tinhas crescido e criado alguma barriguinha. Nada que te afectasse.
Era mais qualquer coisa para apalpar e com a qual eu me podia meter.
Tu afastavas-te a rir e a dizer “Pá, pára lá com isso”, mas sem levar a
mal. No entanto estavas mais frio, mais distante. Apenas um pouco,
mas notava-se. Os anos iam tendo peso em ti. E a descoberta de ti
mesmo também. O que era natural, também me vinha descobrindo a
mim próprio. E nesta altura já não tinha dúvidas. Do que eu era, de
quem eu era, do que sentia. Mas o tempo ia passando e não havia
novidades. As mesmas brincadeiras de sempre, as mesmas conversas,
era tudo bom, mas sentia falta de qualquer coisa. Sentia falta de mais.
De um passo, do nosso beijo, do beijo que tanto imaginei. E de tudo o
que se poderia seguir. Mas tu não tomavas iniciativas e fechavas-te em
copas. Uma vez, em tua casa, quando jogávamos playstation, fui atrás
de ti, espreitar-te, à casa de banho. Não fiz por mal, tinha muita
curiosidade. Tu reparaste. Mas nada disseste. Baixaste apenas a cabeça
e ficaste calado. Pareceste ficar um pouco incomodado. Já te conhecia
bem demais. Quando os outros rapazes gozavam contigo era isso que
fazias. Baixavas a cabeça e fechavas-te em copas.
Outro dia, quando passeávamos na estrada, pus-te a mão no
ombro e comecei a apertá-lo ao de leve. Nada que não tivesse feito
antes, que não fosse natural entre nós. E tu nada disseste. Mas quando
a dona Arminda se aproximou, ao fundo da curva, mal te apercebeste
da sua presença, retiraste-me a mão. Foi um pequeno gesto. Muito
subtil, que ninguém notaria. Mas que eu notei e me deixou triste. Nessa
noite tive vontade de chorar. Parecia que te estava a perder aos poucos.
Comecei a entrar em turbilhão na minha cabeça. Não podia ser. A
imagem do beijo encorajava-me. De ti no meu colo. No dia seguinte
levei-te ao miradouro.
Mas não te deitaste no meu colo. Ficaste apenas calado com a
cabeça a olhar o longe. Coloquei as minhas mãos nas tuas costas e fizte
umas leves massagens. Mas tu não rolaste nem deste patinha. Não te
derreteste como era costume. Ficaste como uma estátua. Pus a mão no
teu cabelinho e afaguei-o. Virei a tua cara para a minha e disse apenas:
- Tenho algo muito importante para te dizer.
Os teus olhos cruzaram os meus e piscaram. Quase um esgar de
dor. Pareceram minutos infindáveis os segundos que me contemplaste
a tentar ler a minha alma. E quando acabaste de o fazer só fechaste os
olhos, a medo, retorquindo:
- Não sei se quero ouvir isto...
Mas já era tarde. Eu já ia embalado. Ou era agora ou nunca. Eu
não te podia perder.
- Acho que estou apaixonado por ti. Eu gosto de ti.
Ficaste parado, sem reacção. Olhaste para o rio. Desviaste o olhar
de mim. Eu desinchei como um balão, mas quase tremia expectante.
Temi uma fúria desmedida. Pensei muito nisso quando antecipava este
momento. Podias ficar furioso. Mas eu tinha de arriscar. Porque ainda
acreditava que, no fundo, te irias render e eu iria ter o meu beijo.
Mas não. Nem ficaste furioso, nem eu tive o meu beijo. Limitastete
a levantar, baixar a cabeça e em silêncio desaparecer.
- Tenho de ir jantar...
Disseste com voz sumida.
E eu fiquei prostrado a olhar o vazio. Uma lágrima veio por mim
abaixo. Suspirei muito. “Já está!” Pensei. “Agora não há volta a dar”.
Durante a semana toda não vieste à rua. Não apareceste. Não
respondeste a nenhuma mensagem. Nada. Um silêncio dilacerante. E
eu não tinha coragem sequer de te ir bater à porta. Passei a semana a
comer mal, a dormir mal. A minha avó achou que eu estava doente e
resolveu mandar-me de volta para casa, para a cidade. E eu concordei.
Já não estava ali a fazer nada. O meu paraíso estava um inferno. A
minha mente andava a mil à hora e não percebia, não conseguia
compreender o que se passava. Como tudo tinha mudado. E como
tudo tinha ficado tão difícil. No dia seguinte partiria. Antes porém
passei por tua casa, tinha mesmo de te ver. Com toda a coragem do
mundo bati à porta. Abriu-a a tua mãe. Sorriu-me como sempre, nela
nada houvera mudado e disse-me para entrar e avisou que eu estava ali.
Entrei a medo e fui até à sala. Estavas a jogar, como sempre, e nem
viraste a cara para mim. Disse-te apenas:
- Amanhã vou embora. Volto para casa.
Continuaste a jogar como se nada fosse. Nem estremeceste. Fiquei
impávido e chamei o teu nome baixinho. Acabei por murmurar.
- Desculpa...
Não sei porque o disse. Mas disse-o. Vacilaste. Senti uma pequena
reacção, uma palavra que finalmente penetrou a tua muralha silenciosa.
Muito baixinho murmuraste a custo e muito devagarinho, sempre sem
virar a cara.
- A minha boca é um túmulo... Faz boa viagem... E que tenhas
muita sorte na vida...
Virei-me e parti com o coração destroçado. Mas ao mesmo tempo
aliviado. Se não me tivesse declarado ficaria para sempre a pensar no
que poderia ter acontecido. Assim, o assunto morreu ali. Nunca soube
o que realmente se passou. O que realmente iria na tua cabeça, se
tinhas medo. Porque antes nunca mostraras medo. Se gostavas de
alguém. Como iria o teu coração. Porque nunca te ouvira falar em
raparigas. Nunca te ouvira falar em ninguém. Ainda hoje conservo no
meu telemóvel a mensagem enviada meses antes.
- Quando vens para a aldeia? Já estou a ficar doido de estar aqui
sozinho. As saudades são infinitas...
André Abel Aaires
22 Anos
Poucas vezes temos lançamentos de livros de autores portugueses de temática gay. O mês de Junho de 2009, ao que parece trouxe-nos ao mesmo tempo dois livros: "A CHAVE DO ARMÁRIO" de Miguel Vale de Almeida e PARTILHA-TE, resultado da partilha de histórias partilhadas por pessoas homossexuais.
É motivo de congratulação estas duas edições, mostra que algo está a mudar, mas por outro lado, achei estranho, bastante estranho, que os respectivos lançamentos coincidissem no dia e na hora! Pergunto eu: porquê?! Eu até gostaria de ter ido ao lançamento de ambos, mas como não me consegui dividir em dois (estranho não é?) optei por ir ao que me calhava mais em caminho... Já ouvi várias vezes falar da pouca união entre as várias associações LGBT mas nunca dei muita importância, mas esta coincidência de datas parece-me estranha, até porque o lançamento do PARTILHA-TE estava inicialmente programado para outro dia e acabou por ser alterado para o dia 24... Enfim, talvez possa ser apenas uma infeliz coincidência mas penso que no futuro poderiam e deveriam tentar fazer com que isto não se repetisse. Somos tão poucos a ter coragem e a dar voz e corpo, que só juntos, todos juntos, poderemos conseguir esse objectivo. Já agora, porque é que a OPUS GAY não participou nas festividades? Hein??
Relativamente aos livros, devido ao atraso da jornalista Fernanda Câncio (segundo ela "já é normal eu chegar atrasada!") não pude ficar até ao final do lançamento do A CHAVE DO ARMÁRIO e ouvir o autor falar... No entanto, com a intervenção da Fernanda pareceu-me que deve ser um livro interessante... Comprei e já está em fila de espera para leitura!
Quanto ao PARTILHA-TE que comecei hoje a ler, acho que qualquer homossexual gostará de ler as histórias partilhadas, tão diferentes, e ao mesmo tempo tão iguais... Um livro fruto da boa vontade dos leitores, na blogosfera, e que só por isso demonstra que algo está a mudar no nosso país...
Ficam as sugestões!
Boas leituras!!!
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PS: Queria partilhar que no lançamento do livro no Centro LGBT, foi muitooooo giro ver um casal de lésbicas e um outro casal de gays, cada um com o seu filhote... Que inveja que senti!!! :))
Acabei ontem de ler um outro livro, desta feita purosexo.com, de Dennis Cooper, da editora Bico de Pena. É talvez o livro, talvez não, é mesmo, o livro mais violento que alguma vez li. Acredito que muita gente não consiga sequer chegar ao final do livro tal é a descrição nua e crua de uma vertente do sexo levada ao extremo!
O livro retrata basicamente mensagens deixadas em fóruns da internet, fóruns de foro sexual, para encontrar e relatar experiências com prostitutos gays. Para além de nos dar a conhecer o lado mais negro da mente humana (que muitos poderão achar ficção mas que eu acho que existe!), relata experiências sexuais sado masoquistas e para lá disso... Foi este livro que li nas mini-férias e ele serviu de mote a algumas discussões, pois todos tiveram curiosidade em dar uma vista de olhos. Ninguém fica indiferente e o primeiro pensamento que surge é "Isto é possível?". E por esse facto, por termos discutido sobre o assunto já valeu a pena, mas também para ficar a conhecer as mentes perversas e doentias com quem nos podemos cruzar, sem aparentemente sabermos...
Sugiro para quem tem tomates! Ehehe! É de homem!!! Ehehehe!
A sério, é muito violento, no entanto, eu gostei de ler e é quase impossível não querermos chegar ao final da história do Brad!
:))
Acabo de ler o livro As Lágrimas de Bibi Zanussi. Com uma capa bem sugestiva (e que segundo o autor, Pedro Gorski, foi recusada a sua venda em muitas livrarias devido a esta capa, e noutras o livro foi vendido por baixo da mesa), e sendo um título de um autor português de temática gay, fiquei obviamente curioso. Comprei através do site da Pergaminho, uma série de títulos, e este custou 14 euros. O livro é composto por vários contos ficcionados, suponho eu, e cada um à sua maneira, retrata vivências diferentes de gays... Algumas das histórias passam-se em Lisboa em cenários que facilmente conseguimos visualizar mentalmente o que dá um tom mais realista à coisa!
Em apreciação geral, gostei do livro, embora esteja longe de ser um livro apaixonante. Lê-se bem, e eu, muito sinceramente, saltei muitas vezes texto, porque embora bem intencionado, o autor encheu as histórias com muita "palha", o que retira objectividade à coisa. E eu sou do tipo mais objectivo, e tenho alguma dificuldade em gostar de ler cinco linhas quando se pode dizer a mesma coisa em duas ou três palavras! Achei que é bastante notório o facto de tentar dar algo à escrita de forma a torná-la mais intelectual, ou seja lá o que fôr e para mim isso é totalmente dispensável. Mesmo assim não dou o dinheiro como perdido e algumas das histórias são bastante interessantes e é bem provável que quem leia se identifique com algumas delas!
Fica a sugestão!
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Este foi o livro das minhas últimas férias, "fio solto", de Dennis Cooper, editado em Portugal pela editora Bico de Pena...
Bem, trata-se de um livro para maiores de 18 anos!
É um livro um pouco louco... Ou pelo menos retrata a loucura de um moço que vive um amor proibido... Com se não chegasse uma homossexualidade não aceite por ele próprio e portanto uma constante luta interior, o rapaz apaixona-se pelo próprio irmão... Um romance trágico, que demonstra bem a dificuldade que por vezes é aceitarmos a nossa sexualidade, que neste caso em particular é levada ao extremo...
Fácil leitura...
11 euros...
Podes comprar AQUI
Desde que publiquei o último livro que li, Correr com Tesouras, e depois não saber o que escolher a seguir, encontrei na fnac, com a ajuda da funcionário, o livro que acabo de ler há alguns minutos: "A SECO". Do mesmo autor do livro anterior, Augusten Burroughs, e continuando a contar as suas histórias de vida, agora a partir dos seus 19 anos, leva-nos numa verdadeira montanha russa de emoções. Gay, alcoólico, profissional reconhecido em publicidade e com uma infância/adolescência invulgares (contadas em Correr com Tesouras), Augusten revela-nos com a sua escrita leve, os seus pensamentos mais íntimos e comicamente (???) realistas acerca do seu dia-a-dia, e a sua luta interior contra os seus medos, o álcool, o amor...
Quanto ao final... Bem, obviamente não vou contar, mas o título do post é sugestivo...
Não consegui parar de ler, mas acredito que faça muito mais sentido ler este livro depois de ler o Correr com Tesouras. Fica mais uma sugestão...
:))
É o nome do último livro que li, enquanto estivemos de férias, do autor AUGUSTEN BURROUGHS... Relata a história de um adolescente, filho de pais divorciados, mãe lésbica, e ele próprio homossexual. As aventuras e desventuras com o retrato de uma infância/adolescência nada linear, e que também aborda o "saír do armário" e as vivências no seio de uma família onde a palavra de ordem é a LIBERDADE... O confronto de ideias sem "filtros" são apresentados de uma forma muito crua e que nos obriga a nós próprios pensarmos sobre alguns assuntos, que por vezes nos passam despercebidos.
Fica mais uma sugestão!
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Este livro apareceu cá em casa já nem me recordo bem como, e peguei nele, até porque é dirigido a homens e tive curiosidade... O autor João Pedro Wanzeller, promete ao leitor desmistificar (ou ajudar a) alguns assuntos relacionados com a forma de vestir, da nossa higiene, do nosso comportamento social, etc etc etc. Pois bem, li o livrinho e tenho a certeza que muitos homens (pelo menos heteros, porque como sabemos, nós gays, temos fama de nos arranjarmos melhor, o que nem sempre corresponde à verdade, mas está bem!) iriam aprender muito e talvez, quiçá, melhorarem bastante o seu aspecto físico e o seu comportamento. Tem imensas dicas sobre como e que roupa vestir no nosso dia-a-dia, festas, noite, etc. Muitas dicas sobre a nossa higiene pessoal, tocando em aspectos que muitos homens ainda se negam a abordar, tais como a depilação, o uso de cremes hidradantes, maquilhagem, etc. E é isso, um livrinho de dicas de onde se podem tirar algumas dicas (ou não!). Penso não ser dinheiro mal empregue..
Fica a sugestão!!!
...pela primeira vez!
Não me recordo de ter comprado um livro e de o ter lido tão rápido, como aconteceu com a minha última aquisição "O terceiro travesseiro". Adorei, adorei, adorei! Embora em brasileiro, vi-o recomendado em alguns sites de temática gay, como pretendia desta vez. Comprei e o resultado foi extraordinário! Não consegui parar de ler, emocionei-me, chorei no comboio... Ehehehe!!! Sim, é verdade... Talvez por tantas cenas retratadas sejam idênticas às que eu vivo ou já vivi. E algumas descrições de actos sexuais são bastante excitantes!
O livro conta a história de dois amigos, em que um deles mantém uma paixão secreta pelo mesmo... Um dia o segredo revela-se e desenrola-se uma história com muitos altos e baixos!
Eu gostei e por isso recomendo.
Eheheh!
Não resisti... Embora não seja de temática gay tenho de divulgar, a quem ainda não conhece, o vídeo de promoção (acho eu) do novo livro do Nilton "O Pai Natal não existe!". Para além de se adequar à época, é de um humor irresistível...
Há quem ainda acredite no Pai Natal... ou não!
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Com a proliferação de blogs, alguns, poucos, conseguem atingir um tal número de visitas diárias que depois dão origem a livros que pegam nos posts e os põem no papel... O último exemplo é o "Cenas de Gaja". Apadrinhado pelo Nilton e Margarida
Rebelo Pinto, que estão neste momento a fazer a sua apresentação no Herman SIC, embora a autora do blog, a "Sissi", não queira dar a cara...
Por coincidência o meu lindo anda agora agarrado ao livro "O meu pipi", também este resultante do conhecido blog com o mesmo nome e que teve o seu último post em Segunda-feira, Dezembro 15, 2003, com o título "CADA CONA É COMO É".
Ambos falam de sexo, ambos são para maiores de 21 anos, e eu não li nenhum deles... Li já algumas passagens de "O meu pipi" e de facto a forma como o homem aborda o sexo e a linguagem utilizada estão bem conseguidas (dependendo do ponto de vista, claro).
Dizia agora a Margarida Rebelo Pinto que ela tinha aconselhado a "Sissi" a não dar a cara por achar que "Portugal não está preparado para conhecer a Sissi..". Que quererá ela dizer com isto???? Fiquei intrigado, confesso...
Bom queria por fim dizer que o meu blog também pode virar livro, sempre eram alguns euros que entravam.... Bem sei que não digo caralhadas, nem falo muito de sexo, mas será que não há aqui sumo para uma boa edição com umas capas baratas? Hummm... Eu acho que sim!!!
E sim, acho que conseguiria dar a cara pelo livro... mas só a cara ok?
:)
:))
PS: Deixo um link para quem quiser saber mais informações:
http://www.somlivre.pt/loja/viewItem.asp?idProduct=202028
Diz no livro, que os pais de uma lésbica têm mais dificuldade em reintegrar-se no seio familiar... Ora e isto porquê? Porque, como sabemos, a ideia concebida desde novos pela sociedade é ver na mulher como uma pessoa que irá casar, ter filhos e saberá cuidar do lar deixando para segundo plano a carreira profissional... Já dos homens, a sociedade em geral espera que venha a ser um bom chefe familiar, que prospere na carreira familiar e consiga dar estabilidade economica ao lar...
A partir do momento em que a filha ou o filho assumem a sua homossexualidade, é fácil deduzir que todas estas ideias pré concebidas deixam de fazer sentido deixando os pais confusos, desiludidos e muitas vezes com um sentimento de culpa. Mas analisando mais ao promenor, na realidade (e segundo o livro) quando um homem se assume como gay, embora os pais abandonem o sonho de vir um dia a ter netos, na verdade poderá mesmo assim, através de um suposto sucesso profissional, uma posição de destaque, colmatar a perca e amenizar mais as emoções... Já no caso das mulheres, tudo aquilo que os pais esperavam da família passa a ser uma miragem, aumentando o sentimento de revolta e repúdio dos pais para com a sua filha. Este sentimento é ainda mais forte do lado do pai, que julga que a sua filha está indirectamente a abdicar da sua figura (como marido) levando-o a pensar que está ele próprio a ser posto de lado...
Acho não ser preciso dizer que isto foi estudado para a generalidade dos casos, vindo as excepções (que esperemos venham a ser o caso geral) confirmar esta regra...
:)