Falo desta vez de algo que nos atinge a todos e nos aflige, a SAÚDE. Neste tema tão vasto, vou focar-me na nossa classe médica, a propósito do assunto abordado no programa "Amores" que ontem vi na TV, com o Júlio Machado Vaz e Grabiela Moita. Dizia a Gabriela que é completamente inadmissível que um profissional da saúde aborde a sexualidade dos seus pacientes com uma pergunta do tipo "Tem namorada?". Esta curta e simples pergunta denota em si um preconceito e uma tendência (natural) em abordarmos e partirmos do pressuposto que quem está à nossa frente é heterossexual... Nada mais errado, e daí concordar plenamente com a opinião da Gabriela... Para quem é homossexual e por algum motivo tem alguma dificuldade em assumir esse facto, o pior que pode acontecer é alguém, em quem ele gostaria de confiar, partir de um príncipio tão descriminatório... Dizia ainda a Gabriela, que a culpa não é apenas dos profissionais de saúde, que a formação que recebem na faculdade, não foca a forma de como deve o profissional abordar um determinado tema, neste caso a sexualidade, com o seu paciente e a forma como deve conduzir o diálogo... Continuo a concordar plenamente!
E ainda a propósito disso, e por total acaso, hoje (infelizmente) tive de dirigir-me a um centro de saúde da minha área de trabalho, devido a dores intensas nas costas. Confesso que tenho sempre algum receio, como acho acontecer com a maioria das pessoas deste país, da forma como irei ser atendido e quem me irá saír na "rifa". Lá fui, e devo dizer que em pouco mais de 10 minutos estava a ser atendido... Conto-vos agora como foi esta consulta com a Drª. Margarida Rodrigues: (EU) - Bom dia... (ELA) - Bom dia! Sente-se... Que idade tem? (EU) - Tenho 28 anos... (ELA) - Não está inscrito neste centro porquê? (EU) - Ainda não me inscrevi, e esta não é a minha área de residência... (ELA) - Não tem médico de família? (EU) - Não... Já tive mas agora não tenho! (ELA) - Mas tem de arranjar... Onde está inscrito? (EU) - Estou inscrito na aldeia onde vivi... (ELA) - Mas veja lá, tem de se inscever e arranjar médico de família! (EU) - Sim... (ELA) - Do que se queixa? (EU) - Tenho dores nas costas... (Ela começa a escrever de imediato...) (ELA) -Mas é local ou estende-se ao resto do corpo? (EU) - É local... (ELA) - Quer injecção? (Fiquei preplexo com a pergunta...) (EU) - Desculpe? (ELA) - Quer injecção? (EU) - Não estou a entender... (ELA) - Então, não veio aqui para levar uma injecção para as dores? (Não consegui disfarçar a minha preplexidade... Fiquei de queixo caído...) (EU) - Eu vim aqui para saber o que tenho nas costas... (Responde ela empurrando um papel na minha direcção...) (ELA) - Ahhh. Mas aqui não se faz análise do problema. Terá de fazer isso no seu médico de família... Muito obrigado e as melhoras, tem aí a receita. (Olho para o receituário, e tinha quatro caixas de sabe-se lá o quê para ir comprar, e saí) (EU) - Bom dia... Ouve-se muitas histórias destas, mas quando somos nós próprios dá-nos que pensar... Falava a Gabriela (e muito bem) da falta de formação da abordagem do paciente relativamente à sua sexualidade... Pois neste caso, nem sequer houve formação pessoal ou profissional (ou pelo menos a médica não aplicou de todo) para me receber... Poderia pelo menos ter encenado algum interesse pelo meu caso, observando ou apalpando as minhas costas... Mas não, é estes profissionais que temos, e infelizmente a ideia que fica é que apenas uma minoria não poderá ser incluída neste saco... E não me venham com a história que recebem mal, ou que têm más condições de trabalho... Este caso que presenciei hoje foi pura e simplesmente um "estar a borrifar-se" para a pessoa que estava ali sentada... E isto, é para mim, uma questão de personalidade, bom senso e educação. Esqueci-me (como se devem esquecer a maioria dos portugueses) que eu tenho o direito a ser assistido, porque pago impostos para isso mesmo, e que embora isto seja o normal no nosso país não nos podemos esquecer nunca que este não é de todo o tratamento merecido por qualquer paciente! Por isto mesmo, devia ter deixada esta minha indignação no Livro Amarelo, mas não me lembrei.. Fica aqui o registo! :)