Quem nunca sonhou ser pai?
Eu desde sempre disse , durante a minha infancia, adolescência e juventude, que queria casar-me, ter filhos, casa e carro!
Tudo isso era muito claro na minha cabeça, até ao dia em que assumi para mim próprio que sou homossexual. Na altura, penso que o facto de achar que já não seria pai, foi das coisas que mais me custou. Tenho muita auto estima e amor próprio, e isso provavelmente reforça a vontade de querer que alguém continue neste mundo com os meus genes (que considero bons!)! Mas bem, naquela altura abandonei a ideia e convenci-me que não valia a pena pensar mais nisso.
Entretanto o lindo surgiu na minha vida. Apaixonei-me. Começamos a viver juntos. Começamos a aproveitar a vida a fazer o que nos dava gozo, e concretizando projectos comuns. E há uns 10 anos pensámos na hipótese de ter filhos, já que também decidimos casar (após a aprovação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo). O passo seguinte (normal) seria o de sermos pais e pensámos muito sobre isso, mas achámos que na altura, tanto a nível de disponibilidade que tínhamos, como a vida e o que queríamos fazer, não eram compatíveis com a adoção. Decidimos prosseguir com a nossa vida a dois.
Este ano, e numa conversa informal com um dos meus colaboradores, ele dizia-me (ao ver-me com o filho da sua companheira ao colo) que eu deveria ser pai, que me achava boa pessoa e que deveria pensar em ser pai. Expliquei-lhe que não estava nos planos adotar. E ele disse que deveria ser um filho de sangue... Expliquei-lhe que não podia, e ele retorquiu dizendo que me arranjaria as condições para eu poder ser pai biológico. Noriundo da Nigéria, ele conhecia várias mulhers dispostas a ver para Portugal e "dar-me" um filho. Rejeitei a ideia peremptoriamente. Mas a verdade é que aquela conversa reacendeu em mim a vontade de ser pai. De tal forma que nesse dia não dormi bem. Falei com algumas pessoas que eram pais pela via da adoção e sem querer, estava a nascer em mim uma vontade imensa de ser pai. No dia seguinte comentei com o lindo sobre isso... E ele (ao contrário do que eu imaginara) disse "porque não?! Podemos pensar nisso". Fiquei estupefacto e com a cabeça a mil. A adoção surgiu logo como opção natural e que faz sentido. Neste momento eu trabalho a partir de casa, o lindo já não trabalha por turnos, temos casa própria no centro da cidade e uma estabilidade emocional e financeira. Temos uma vida tranquila, já viajámos muito (e queremos continuar a fazê-lo, talvez noutros moldes) e por isso estamos receptivos a incluir no nosso seio familiar uma criança para lhe darmos amor e educação. A nossa relação não depende disso, aliás, o principal medo do lindo é o impacto (que irá ter de certeza) na relação possa ser devastador ao ponto de nos separar. Mas não achando que isso possa acontecer, a verdade é que, não podemos adivinhar.
Certo é que, estamos a remar para o mesmo lado e empenhados agora em ser pais! E estamos felizes com essa ideia! :)