Ultimamente dou comigo a pensar "Como podemos decorar o quarto da criança?", "Como é que ela vai reagir às nossas miúdas?", "Será que os avós ainda vão conhecer a criança?"...
E ainda nem sabemos se podemos adotar... Estão a imaginar se formos aceites para adoção?!
MEDO!!!!
Hoje, o dia seguinte a ter dado a novidade aos meus pais, meti conversa com a minha mãe para saber como estavam a digerir a coisa. Como já imaginava e sabia, a minha mãe é a melhor do mundo e sou verdadeiramente um sortudo por ter esta mulher na minha vida. Deixo a nossa conversa de hoje que me deixa de coração cheio:
Mãe - Olá! Tudo bem por aí?
Eu - Tudo e por aí?
Mãe - Tudo ok!
Eu - Contentes com a notícia ou ainda a digerir?
Mãe - Eu estou muito contente,tenho pena de não ser mais nova,para poder acompanhar por mais tempo,o pai apenas disse que talvez vão fazer uma asneira,mas ele nem sabe o que diz.
Eu - A decisão é nossa. Mas claro, vocês serão os únicos avós da criança e ficaremos muito felizes que ela possa ter-vos, o tempo que for!
Mãe - Á pois o tempo que será não se sabe,mas sim quando a Paula me falou nisso,eu disse e ela pode confirmar,que tinha tristeza de vocês não terem uma criança,uma vez que gostam tanto de crianças, o lindo não sei tão bem,mas tu sei que adoras crianças,e se isso vier a acontecer,e que tudo corra bem,a vossa vida mudará muito e que serão muito mais felizes, embora tenham que pensar no lado positivo e no negativo,e isso vocês sabem melhor que eu
Eu - Claro! Também acho que vai ter pontos negativos mas penso que os positivos serão sempre maiores!
Mãe - Espero do coração que sim,e dores de cabeça,e alguns problemas, haverá sempre, ou mais ou menos,como em todos os casais,e tudo se ultrapassa.
Foi hoje.
Os meus pais vieram a Lisboa e eu e o lindo consideramos que seria hoje o dia certo para lhes comunicar a nossa decisão. Não influencia a nossa decisão (que aliás já tomamos) mas é importante termos a família nuclear ao nosso lado, e eles têm sido um grande apoio para nós, e se a família crescer isso será mais importante ainda.
Vieram com o tempo muito apertado. Estava a ver que não conseguíamos nos sentar com eles para lhes contar. Mas um pouco antes de irem embora conseguimos ir a uma pastelaria ao lado do centro de saúde e falarmos. Estávamos os quatro.
E eu comecei: "Temos uma coisa para vos dizer... Penso que é boa... Nós decidimos adotar uma criança e já começamos o processo!".
(silêncio)
A minha mãe, que estava à minha frente, olhou-me nos olhos, mostrando-se pouco admirada, e disse com um sorriso ténue "Acho que fazem bem, se é isso que querem!".
Ao lado, estava o meu pai, em frente ao lindo que continuava a mastigar a sandes e não parou.
A minha mãe continuou a dizer que uma irmã dela, nossa tia, lhe tinha falado nessa possibilidade no ano passado e por isso não era total a surpresa. Reparando que o meu pai não tinha dito nada, olhou para ele e disse "Então, acabam de te dizer uma coisa tão importante e tu não dizes nada?!"... Ele olhou, riu meio envergonhado e "enconstado contra a parede" lá disse "Não há nada para dizer, para já!".
E pronto, sairam a correr para ir apanhar o comboio.
Eu e o lindo regressamos a casa, pouco surpresos. A reação era mais ou menos a esperada. O meu pai estará por agora a digerir a novidade.
Quem nunca sonhou ser pai?
Eu desde sempre disse , durante a minha infancia, adolescência e juventude, que queria casar-me, ter filhos, casa e carro!
Tudo isso era muito claro na minha cabeça, até ao dia em que assumi para mim próprio que sou homossexual. Na altura, penso que o facto de achar que já não seria pai, foi das coisas que mais me custou. Tenho muita auto estima e amor próprio, e isso provavelmente reforça a vontade de querer que alguém continue neste mundo com os meus genes (que considero bons!)! Mas bem, naquela altura abandonei a ideia e convenci-me que não valia a pena pensar mais nisso.
Entretanto o lindo surgiu na minha vida. Apaixonei-me. Começamos a viver juntos. Começamos a aproveitar a vida a fazer o que nos dava gozo, e concretizando projectos comuns. E há uns 10 anos pensámos na hipótese de ter filhos, já que também decidimos casar (após a aprovação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo). O passo seguinte (normal) seria o de sermos pais e pensámos muito sobre isso, mas achámos que na altura, tanto a nível de disponibilidade que tínhamos, como a vida e o que queríamos fazer, não eram compatíveis com a adoção. Decidimos prosseguir com a nossa vida a dois.
Este ano, e numa conversa informal com um dos meus colaboradores, ele dizia-me (ao ver-me com o filho da sua companheira ao colo) que eu deveria ser pai, que me achava boa pessoa e que deveria pensar em ser pai. Expliquei-lhe que não estava nos planos adotar. E ele disse que deveria ser um filho de sangue... Expliquei-lhe que não podia, e ele retorquiu dizendo que me arranjaria as condições para eu poder ser pai biológico. Noriundo da Nigéria, ele conhecia várias mulhers dispostas a ver para Portugal e "dar-me" um filho. Rejeitei a ideia peremptoriamente. Mas a verdade é que aquela conversa reacendeu em mim a vontade de ser pai. De tal forma que nesse dia não dormi bem. Falei com algumas pessoas que eram pais pela via da adoção e sem querer, estava a nascer em mim uma vontade imensa de ser pai. No dia seguinte comentei com o lindo sobre isso... E ele (ao contrário do que eu imaginara) disse "porque não?! Podemos pensar nisso". Fiquei estupefacto e com a cabeça a mil. A adoção surgiu logo como opção natural e que faz sentido. Neste momento eu trabalho a partir de casa, o lindo já não trabalha por turnos, temos casa própria no centro da cidade e uma estabilidade emocional e financeira. Temos uma vida tranquila, já viajámos muito (e queremos continuar a fazê-lo, talvez noutros moldes) e por isso estamos receptivos a incluir no nosso seio familiar uma criança para lhe darmos amor e educação. A nossa relação não depende disso, aliás, o principal medo do lindo é o impacto (que irá ter de certeza) na relação possa ser devastador ao ponto de nos separar. Mas não achando que isso possa acontecer, a verdade é que, não podemos adivinhar.
Certo é que, estamos a remar para o mesmo lado e empenhados agora em ser pais! E estamos felizes com essa ideia! :)
O nosso 2020 começa da melhor forma possível: decidimos dar o passo de aumentar a família. Iniciámos hoje o processo de adopção e como deverão imaginar estamos muito motivados e ansiosos!
Será um processo longo, e poderá não chegar a bom porto, já que há uma série de etapas, porém estamos confiantes e com muita vontade de dar a possibilidade de uma criança ter um lar e ser amada!
Agora já posso também contar que esta é a novidade que me fez regressar ao Blog. Para mim faz todo o sentido dar a conhecer e partilhar esta experiência que agora começa. Um passo natural para muitos casais hetero, menos (por enquanto) para casais gay e por isso acho importante poder partilhar convosco o que nos for acontecendo.
Adoptar é um acto de amor e coragem. Estamos felizes por darmos este passo.
Uma crónica que encontrei no jornal Público e que aproveito para partilhar... Leiam AQUI
Por estes dias não se fala de outra coisa senão dessa vergonha a que tivemos a infelicidade de assistir: a aprovação de um referendo à adopção e co-adopção de crianças por casais de pessoas do mesmo sexo. Os proponentes foram os meninos da JSD, e o partido PSD aprovou com a abstenção do CDS. Após a votação assistimos a um rol de declarações de voto de pessoas a dizer que tinham votado contra a sua consciência para obedecer á disciplina de voto imposta no PSD! Mas que raio de pessoas nos representam que votam contram a sua própria consciência?! O episódio é tão lamentável que chego a ficar envergonhado, tanto pelo conteúdo como pela forma como tudo decorreu! Já aqui falei tantas vezes sobre a adopção que não vale a pena repetir os argumentos, mas vale sempre a pena ressalvar o mais importante de tudo e que estes políticos teimam em querer esquecer: o que realmente importa são as crianças e o seu bem estar! Todas as crianças têm o direito a ser felizes, amadas e viverem em condições estáveis! Como se pode pensar em fazer um referendo sobre os direitos das crianças?
Muito triste...
:(
O assunto foi notícia há pouco mais que uma semana, e confesso que fui surpreendido pela notícia! Estava no restaurante a almoçar e recebo uma sms de uma amiga a dizer "Parabéns , já podem adotar!". Dei um pulo da cadeira, acedi à net e vi que a co-adoção tinha sido aprovada na generalidade pelo nosso Parlamento. Essa minha amiga não estava muito por dento do assunto, pois não se trata da adoção por casais homossexuais mas sim, um direito mais particular, que pretende (e muito bem!) regularizar as situações já existentes em que um dos membros de um casal homossexual sendo pai de uma criança (biológico ou adotado) poderá partilhar a paternidade ou maternidade com o seu companheiro. É uma meia vitória, mas sabendo-se que temos um governo de direita, é surpreendente que tenha sido aprovado. Obviamente que esta aprovação irá ter consequências, pois parece-me óbvio que se alguém acha que nestes casos que já existem podem ambos ser pai, como poderão achar que um casal (como eu e o lindo) não pode adotar? A lei começa a ficar ridícula e parece-me que mais brevemente do que possamos imaginar, a lei da adoção irá ser alterada no sentido de abrir a possibilidade de adotar aos casais de homossexuais. Sempre achei um absurdo não o ser (após a legalização do casamento) possível, mas agora ainda acho menos, e quem perde (sempre!) são as crianças que sonham em um dia ter um lar e poder ser amadas por alguém (penso que o menos importante será o sexo das pessoas!). Vai ser interessante ver como este assunto de desenrola, até porque tudo indica que poderá ser inconstitucional, e assim sendo, ou se regulariza para todos os casais (e aí não estou a ver os argumentos dos parlamentares para votarem de forma diferente da que votaram agora) ou então este projecto de alteração fica na gaveta!
A ver vamos!!!
:)